Uma das diferenças do Ecoesporte para muitas modalidades esportivas praticadas na natureza é o uso da inteligência naturalista na sua prática.

A inteligência naturalista faz parte da teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida a partir da década de 1980 por Howard Gardner, professor de psicologia na Universidade Harvard.

Podemos conceituar inteligência naturalista como a habilidade do indivíduo observar, reconhecer e compreender as espécies vegetais, animais e os minerais e a sua relação com meio ambiente e a vida humana.

A inteligência naturalista pode ser desenvolvida em qualquer idade por meio de um programa de atividades que busquem reconhecer os elementos da natureza. Mas estar na natureza, gostar de natureza ou praticar esportes na natureza pode não contribuir para o desenvolvimento desta inteligência quando o foco é outro e o ambiente natural é apenas contemplado ou visto de forma simbólica e não real. Este olhar diferente não desmerece estas atividades de forma alguma por não envolver a inteligência naturalista, conforme os exemplos:

• Para algumas atividades na natureza pouco interessa para seus praticantes se o capim que pisam é do bioma do cerrado do Brasil ou das savanas da África, mas o que buscam tão somente a entender é, se é amarelo com linhas verdes ou somente amarelo no mapa.
• Em algumas práticas de aventura em um parque ou no ambiente escolar o aluno pode buscar como objetivo marcado no mapa um “X” verde ou um “círculo” verde, que corresponde a um arbusto ou uma árvore, respectivamente, e, pouco lhe interessa a espécie vegetal, se é uma planta do Oeste da Argentina, Sul da Austrália ou da Ásia e sua relação com estes elementos vivos da natureza.

Destacamos dois relatos de atividades de Ecoesporte que estimularam o desenvolvimento da inteligência naturalista:

1. Em fevereiro de 2017 foi montada a atividade de Ecoesporte para a Colônia de Férias da Academia do Movimento. A atividade para crianças de 4 a 6 anos de idade consistia em plantar uma mudinha em uma garrafa de PET para depois mostrar árvores maiores na natureza e, por último, o símbolo da árvore no mapa. Quando o professor explicava que a plantinha tinha vida e tinha que colocar água e cuidar para não morrer um menino de 5 anos de idade interviu e relatou que “o meu vô disse que que as folhas dão ar” e continuou “o meu vô cuidou tanto do pé de abacate que deu tanto abacate que quebrou um galho”. Em fevereiro de deste ano (2019) não plantamos as mudinhas devido a falta de tempo por ter uma turma a mais e, quando realizamos o percurso de apresentação explicamos que o círculo verde que tinha dentro da seta de partida era um ipê roxo, uma árvore, elemento vivo da natureza, quando a mesma criança, que dois anos antes relatou os ensinamentos do seu vô, comentou: “agora eu tenho em casa três mudinhas dessa árvore e coloco água todos os dias para não morrer”.

2. Em novembro de 2018 levamos as crianças do Projeto Navegar para fazer uma prática de Ecoesporte na floresta da antiga FEPAGRO, na Boca do Monte, e ensinamos para as crianças a árvore “jatobá”. Os alunos, com idade entre 11 e 13 anos, tiveram a oportunidade de identificar a árvore, sentir o cheiro e provar o fruto do jatobá. No final do mês de fevereiro de 2019 fomos à floresta novamente para realizar treinamento para a equipe de atletas e as crianças demonstraram conhecer a árvore jatobá, sendo que o restante do grupo, constituído por professores, acadêmicos e outros profissionais, estava conhecendo esta espécie de árvores pela primeira vez.

Todas as aulas destes relatos foram filmadas e fazem parte do acervo da Academia de Ecoesporte.

Veja parte da aula de apresentação da espécie vegetal jatobá:

Ecoesporte foi organizado como modalidade esportiva de forma a desenvolver e valorizar a inteligência naturalista, quer seja no ambiente escolar quanto em competição, conforme o princípio filosófico que rege todas as atividades, qual seja, o equilíbrio entre o homem e a natureza.

Colaboração:  Edson Santos Azevedo